Há uns dias atrás em conversa com um leitor a propósito dos tempos que testemunhamos actualmente, sobressaiu o acontecimento do 25 de Abril de 1974. Perguntei, o que fazia nesse dia, que mudou o paradigma político e social até então. Respondeu que estava a trabalhar, na fundição do Rossio ao Sul do Tejo. Soube da notícia, da queda do governo de Marcelo Caetano, nesse dia, até de madrugada não tirou os ouvidos da telefonia. Na fábrica o dia de trabalho decorreu normalmente. O (...)
Na Aldeia do Mato as ruas apresentam ainda as cicatrizes originadas pelas pás das escavadoras, manobradas por operários, cirurgiões, dando formas a projectos na construção civil, que desventraram o subsolo da aldeia. Trocaram, melhoraram, e estenderam as entranhas, nas quais a água corre ao encontro das torneiras, quando é precisa nas casas dos aldeões. Como se fosse uma aparição, o padre, apesar das demasiadas paróquias a seu cargo, isto anda mau para todos, surgiu, segurando (...)
Não consigo evitar de abrir a boca involuntariamente, o bocejo está sistematicamente a assaltar-me. Não estou aborrecido, talvez sejam efeitos dos comprimidos para atenuarem a constipação. Arrebatou-me no fim de semana, e está difícil de expulsar. Acontece o mesmo com o sol, depois de uma manhã cheia dele, foi tomado ao início da tarde por uma espessa camada de nuvens. De repente, a tarde transformou-se, vieram leitoras com ânimo, contagiaram o viajante das viagens e andanças (...)
A chuva premeia a ousadia dos automobilistas, fraccionando a intensidade da queda na estrada, nas viagens e andanças. Há momentos em que a quantidade da pluviosidade impõe um comportamento mais atento em determinados caminhos, ao encontro dos leitores. O mesmo cuidado têm alguns deles, ficam em casa, não se querem molhar, a leitura pode esperar para a próxima visita da biblioteca ambulante. Também os há audazes, sem medo da bátega, impossibilitando-lhes a manutenção das (...)
A paisagem é um livro aberto, a destruição de restos lenhosos oriundos das videiras, das oliveiras, de escritas anónimas nas folhas amarelecidas pelo tempo. O aniquilamento, transformado em pó, após a combustão, é lançado na terra. Uma combinação estimulante para as novas ideias, daqueles que nunca desistem de pegar na caneta a semearem histórias. No ar, uma névoa de pensamentos espalha-se pelas aldeias da minha terra, leva a esperança, sossega as pessoas.
Não há armistício, a chuva cai ininterruptamente em Martinchel, as histórias nas estantes estão quietas e mudas. Como eu, não arranjam palavras para tanta água, e leitores que as leiam. A estrada transformou-se num longo ribeiro, a biblioteca ambulante, numa jangada de histórias. Neste pequeno curso de palavras não temo um naufrágio nas páginas do oceano, no qual irão desaguar as histórias desta armação feita de criatividade. Deslizo numa embarcação construída por (...)
À volta das palavras, um passeio rápido pelas ruelas da biblioteca ambulante. Passagens estreitas, percorridas a pente fino, onde as mãos têm dificuldade em penetrar nos intervalos que separam os prédios onde habitam as palavras. As letras mostram-se às janelas esperançadas que alguém compartilhe alguns mexericos, lhes pegue, as leve dali para fora. Penduradas no estendal, as frases dançam ao sabor do vento, apelam à leitura, pedem que compareçam nas pequenas ruas, incentivando (...)
Cruzei-me com o peixeiro a meio da viagem para a Aldeia do Mato, a biblioteca ambulante e a carrinha do peixe são velhos conhecidos nas estradas das aldeias da minha terra. O peixeiro e o viajante das viagens e andanças incansáveis à procura de fregueses, o primeiro a buzinar uma melodia conhecida de todos, alertando as populações da sua aproximação, o segundo no veículo de cor amarela, com as flores e os monumentos expressados na carroçaria, manifestando a chegada das (...)
Novamente na estrada, ir ao encontro dos bem aventurados nas páginas das histórias, a repor a leitura atrasada pela paragem imprevista da biblioteca ambulante. Não esperavam a visita repentina, vi isso nos olhos e nos sorrisos rasgados quando chegaram com as histórias. O vento não está para brincadeiras esta manhã, não houve melhor boleia para a biblioteca ambulante chegar à aldeia de Martinchel. Pouco antes de terminar a viagem nas asas do vento selvagem, telefonavam ao viajante (...)
A água na bica não se cansa de correr, é a terra a expressar-se, a revelar-se aqueles que matam a sede na fonte, ao viajante das viagens e andanças. Ao bebermos dela ouvimos confidencias, as palavras alegres, os queixumes, a leviandade de alguns a cuida-la. Na Aldeia do Mato a leitora aproxima-se a mencionar que não vai levar histórias, só quer conversar comigo, está acordada há algum tempo e sou a primeira pessoa que encontrou. Aos seus olhos os terrenos e casas abandonados e (...)