Num céu forrado de cinzento, destacam-se as cores das folhas agarradas aos ramos das árvores. Não sendo uma árvore, figuradamente posso referir o contrário, as suas raízes aumentam consoante a presença nas aldeias, os leitores conquistados, os que virão submetidos por um livro de cada vez. As cores enraizadas na estrutura metálica, anunciam a sua identidade, obrigam quem se cruza a desistir de olhar na direcção que segue, para se virar no sentido do seu destino. Uma árvore (...)
O largo tem pessoas, sentados sob a esplanada que acompanha o desvio que a calçada tem para a entrada da rua ser ampla. Defronte, estão mais mesas e cadeiras ocupadas por mulheres, falam sem parar, raspando pequenas cartolinas da sorte. O homem que assa os frangos, vende hortaliças, flores e sei lá mais o quê, arruma o negócio na carrinha sem tirar o cigarro da boca. Acompanhado por outro que tem a totalidade do rosto coberto por uma espessa manta de pêlos, sobressaindo o (...)
Olhares exploradores em busca de histórias desconhecidas, ou talvez reler novelas abandonadas nas tábuas da memória. Os anos passam, a leitura, onde vai ela, nunca mais pegaram numa brochura, mãos desabituadas em acolher fantasias, dedos debilitados pela privação de dedilharem páginas de um oceano de palavras. O receio de enfrentarem as ondas de letras que pularam na criancice na escola que abandonaram precocemente. O vaivém das ondas continuou, nunca mais foram à praia, (...)
No Largo das Escolas, encostada à rua do Moinho de Vento, a bibillioteca ambulante, emboscada, diante de quem possa ser surpreendido pelas histórias. Leitores, desconhecidos, podem parar repentinamente, não estarem precavidos não é problema, as portas estão abertas, as histórias possuem sonhos, fantasias, verdades, sobretudo experiências de vida. A mistura de tudo isto, ainda é para muitos algo que não adivinhavam, para quem experencie uma primeira vez na biblioteca ambulante, (...)
"Estou aqui" é o que está escrito no objecto do canto superior direito da página de rosto do livro, insignificante para muitos, desnecessário para outros, de grande importância para quem gosta de ler. Um farol num mar de letras que ilumina quem queira chegar ao final de um capítulo, ou mesmo de uma história. Um astrolábio que guia os leitores para definir a latitude e longitude do objectivo proposto quando se iníciam viagens longas ou curtas nas ondulações das páginas de um (...)
Novamente na estrada a levar histórias, após uns dias a comunicar com a pequenada nas Festas da Cidade de Abrantes. Não é de todo a atmosfera onde o viajante das viagens e andanças e a biblioteca ambulante se dão melhor. É a pisar o alcatrão, a permanecer nas aldeias e lugares, rodeados pela charneca, pelas pessoas dos sítios remotos. Nos dias quentes, nos dias frios, colados ao meio rural, cravados na terra deles. Não é propriamente o país das maravilhas, pouca densidade (...)
Dia da Ascenção, ritual cristão, mas também com ligação às tradições pagãs, no cristianismo é a elevação de Jesus ao céu depois de ter sido crucificado. As crianças da escola da aldeia do Pego, surgiram ao virar da esquina, todas traziam um raminho composto de flores silvestres, para guardarem nas suas casas até ao próximo ano. Entraram na biblioteca ambulante uns atrás dos outros olhando as histórias com curiosidade, mais alto, puderam tocar nas capas que (...)
O corpo protesta com a temperatura elevada, as histórias reclamam por leitores, o viajante das viagens e andanças revoltado pelo pólen que o incómoda a cada hora que passa. Um início de semana de contestação perante as realidades meteorológica, afastamento, e carácter incompatível de ser alérgico aos grãos microscópicos de cor amarela. Em Concavada, aldeia plantada à beira rio, só a esplanada do café atrai as pessoas. Situada no largo da aldeia, junto da estrada, (...)
O vento não trás nada de novo, só frio que nos faz vestir agasalhos novamente. Há uma indecisão no andamento no curso natural das coisas, andamos aqui um pouco aos papéis ouvindo comentários de uns e outros, mas não passa disso mesmo. Encontro refúgio nas histórias, lugares onde encontramos conhecimento, deparamos com realidades que nos fazem parecer muitas vezes personagens das histórias que lemos. Nelas são-nos transmitidas ocorrências, problemas e resoluções no passado (...)
A impetuosidade do vento sacode a biblioteca ambulante na estrada que a leva à aldeia do Pego, as histórias agigantam-se perante a possibilidade de elas próprias serem transportadas mais rapidamente no corpo deste fenómeno natural. Tal não irá acontecer, a condução prudente do viajante das viagens e andanças coloca-as em segurança na aldeia. A porta grande aberta, desperta a atenção a quem passa no passeio, olhares curiosos penetram no interior da biblioteca, ficam por aqui, (...)