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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

04.11.25

A fonte não está a deitar ...


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Abri a porta à manhã, e levei com ar frio no rosto, bruscamente de uma aldeia para outra a temperatura nas viagens e andanças perdeu ânimo. O sol abatido por nuvens cinzentas a sobreporem-se ao brilho que nos faz acreditar que não há dias maus. Na rua os rostos que se atrevem a percorrer o acesso principal da aldeia, passam carrancudos. Sombrios, como o tempo pardacento, vão na direcção das hortas empoleiradas, nos terraços inclinados para o rio. A subsistência está sempre em primeiro lugar, é indispensável uma vista de olhos diária sobre o que se desenvolve na terra cuidada com esmero. Atentos à bicharada rastejante que se alimenta das folhas tenras em crescimento, umas apontam ao natal, o culminar da existência. Enchendo a boca dos comensais, empurrando no mesmo prato lascas de bacalhau. De manhã, de tarde, as visitas efectuadas às parcelas cultivadas, não vá alguma distracção deitar abaixo, horas de trabalho manual, dinheiro gasto em sementes e plantas. Ou desiludir o amor que têm pela terra suave, pelo leito onde se deitam as esperanças de toda uma vida. A fonte não está a deitar a palavra água, é preciso que venha alguém abrir a torneira para esta desabafar, muitas, mais palavras. Matar a sede aos aldeões. A quem ande sem rumo, queira beber palavras, viajar na corrente, nos meandros das histórias. Afogarem-se no tanque, das ideias, das memórias, das descobertas, juntamente com as mulheres e homens que expõem estas representações mentais.