A monotonia da tarde é ...
O rio Zêzere no seu ponto de chegada à barreira que modera o seu curso natural, desaperta as águas para podermos estreitar relações mais próximas. No Bairro Cimeiro, o horizonte estende-se a perder de vista, um vasto espaço para escrever histórias sobre as pessoas destes lugares. Imaginar como seriam os lugares antes da construção da parede que fez parar o rio. Em Martinchel o barbeiro, em pé, à porta do estabelecimento, está a escrutinar, o aparecimento de algum cliente para cortar o cabelo, ou a barba. Faço o mesmo na biblioteca ambulante, esperançado na visita de leitores. Só o vento, entra pela porta grande, em grande velocidade para agitar as folhas dos jornais e sair com mais conhecimento, roubando as letras dos jornais. Na estrada, o trânsito rodoviário não descansa, nos dois sentidos um inúmero de veículos diversos, inquietos como as formigas nos seus carreiros, a transportarem comida para a sua rainha. As pessoas daqui não comunicam com facilidade, sempre ouvi, dizerem, da preferência de se deslocarem aos concelhos vizinhos, pela proximidade geográfica dos lugares de administração dos mesmos. Não sei se frequentam as bibliotecas destes, se o fazem, também o podem fazer na biblioteca ambulante, se for o contrário, porque não experimentam aproximarem-se desta biblioteca sobre rodas. Há jornais diários, revistas actualizadas e livros, muitos livros, com histórias verdadeiras, de paixão. De aventuras, espalhadas pelas florestas de letras, nos desertos, das páginas amarelecidas ao longo das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. A monotonia da tarde é quebrada pelos campos de flores, ao longo do percurso, entre os destinos. São cores a ilustrarem a história do dia, afastando as situações desagradáveis, as preocupações, o que acontece à revelia de nós próprios.