A ousadia das letras
A chuva cai sem parar, tem momentos de alguma violência quando empurrada pelo vento, as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, vão ter de encarar a Elsa. Não sendo uma leitora, a Elsa é uma semeadora de ventanias e águas, que não trará apaziguamentos esta tarde às histórias nas aldeias da Amoreira e Rio de Moinhos. Na Amoreira a biblioteca ambulante está constantetemente a ser sacudida pelo vendaval, a Carolina entrou como se tivesse sido disparada para o interior da biblioteca ambulante. O João aproximou-se debaixo de um guarda-chuva que não desiste de o mostrar à ira da Elsa, na rua as pessoas apressam-se para chegar às suas casas, os automóveis com os faróis acesos antecipam a noite a meio duma tarde invernosa. No café os homens de bóinas enfiadas na cabeça, e mãos nos bolsos, meio confusos entre sairem estugando o passo ou ficar continuando a beber. Em Rio de Moinhos o nevoeiro agarrado à terra torna mais difícil a visibilidade, felizmente que as histórias são um farol para os leitores e uma interrogação para quem não lê. A ousadia das letras, das palavras, perante uma Elsa demoníaca o arrojo dos que lêem, estimulam a reflexão naqueles que não dão importância ao trabalho desenvolvido por quem tráz e dá e por quem recebe e leva. Mas as histórias à semelhança da teimosia do guarda-chuva, gostam de se revelar, de continuar a seduzir os que continuam indecisos.