A tarefa não tem sido fácil
Gradualmente o sol rompe, afastando a espessa camada de nuvens suspensas há alguns dias no território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Na aldeia da Pucariça com o relógio da torre da igreja a soar as onze badaladas, o sol erguido, repleto de poder, espreito quem anda por perto, se será algum leitor. Nestas espreitadelas deparo com o parque Fitness, um conjunto de aparelhos de ginástica destinados a um público sénior, utilizados na exercitação dos membros superiores e inferiores. Se bem me lembro todas as aldeias das viagens e andanças têm estes equipamentos. Até aqui tudo bem, olhando para estes, perto da biblioteca ambulante sem ninguém a usufruir dos mesmos, penso que todos os outros ao longo do itinerário das viagens e andanças nunca ou raramente são utitizados pelos locais. Após anos de fio a pavio, a trabalhar a terra com ferramentas manuais, os velhos de hoje, esgotados terão vontade de voltar a adquirir vigor ou agilidade? Não tenho a impressão dessa pujança, vendo-os todos os dias empenados, agarrados a paus, vergados pelo peso dos anos de labuta, depositados em lares. E os velhos de amanhã, continuarão nestas aldeias, que os viram nascer, crescer, correndo, disputando brincadeiras entre eles? Não sei, aldeias sem gente, os jovens somem-se logo depois de concluído o secundário, para não mais voltarem, é assim em todas elas, ficam os velhos e os outros onde a escolaridade não foi mais além. A boa vontade na instalação destes equipamentos não basta, as histórias continuam a lutar todos os dias por mais leitores, a tarefa não tem sido fácil, mas pouco a pouco, aqui, ali, além, surgem leitores determinados a continuar a sonhar. Será que chega?