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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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Está um frio de fazer levantar os pelos do corpo, o ar não está para brincadeiras, gela tudo. A biblioteca ambulante na aldeia do Tubaral, não espera novidades esta manhã, os leitores presos ao lume crepitante nas lareiras, não levantarão os traseiros dos assentos, aquecidos pelo calor do fogo. Há, sempre todos os dias nas viagens e andanças, qualquer situação a impedir, este ou aquele leitor de se deslocarem à biblioteca ambulante. As nabiças na horta estão a pedir a extinção do ervaçal, é necessário sachar uma parcela de terra, para as favas não desaparecerem na floresta dos ortigões. A ida ao Centro de Saúde mais próximo, coincide precisamente no dia das histórias permanecerem na aldeia. O horário anual da presença da biblioteca ambulante nas aldeias da minha terra, desapareceu no meio de outros papéis, arrumados ao acaso em cima de um móvel, na sala, na cozinha. O frigorífico é um electrodoméstico útil para se colocar o horário perdido, e outros papéis importantes a guiarem os leitores no quotidiano. É um documento secundário, confiam no avistamento do veículo de cores amarelo e branco, nos espaços amplos, próximo dos cafés, nas aldeias. Quando tal não acontece, o queixume chega aos ouvidos do bibliotecário, por outros leitores, dizem sempre “Não o vi no largo! Tinha um livro para devolver! O que vou ler agora!” São quase sempre estas as exclamações proferidas. Que culpa tenho eu, têm que andar mais atentos, felizmente sabem que a biblioteca ambulante não os abandona, volta sempre aos mesmos lugares, não foi hoje, será na próxima visita. Duas mulheres embrulhadas em longos xailes, da cabeça aos pés, passam sem tirar os olhos da biblioteca ambulante, a curiosidade foge, quando fito os seus olhos, imediatamente viram as cabeças no sentido do destino que levam. A vontade de ver, poderia ter ido mais além do que aqueles olhares desconfiados. A leitura para algumas pessoas, não faz sentido ser propagada nas aldeias, talvez desmotivadas pela ausência de serviços públicos, médicos, farmácia, transportes públicos escassos e pessoas principalmente. Porquê uma biblioteca na aldeia, com a porta aberta, onde só o ar frio entra, se não há o que realmente faz falta na aldeia. A biblioteca traz qualidade às aldeias, modifica-as, altera mentalidades com a adesão das suas pessoas à leitura. No futuro terão ferramentas e passarão a possuir condições para melhorarem as suas aldeias.