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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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O início da semana nas viagens e andanças é nos arredores da cidade, o local onde a biblioteca ambulante se encontra estacionada, permite avistar as muralhas do seu castelo. Actualmente são mais os emigrantes que passam no bairro, do que os próprios naturais. Olham cheios de curiosidade as histórias, não se atrevem a entrar, conhecerem de perto os assuntos, nos quais poderiam abraçar de outra maneira a sua integração na nova realidade em que estão. Tapam o corpo com roupas originárias dos países de onde vieram, as cores extravagantes empurram o meu olhar numa viagem por África. Poderia ser  do Cairo à cidade do Cabo, através do mato, no deserto, aproveitando a corrente dos rios, atravessando vários países. Também eles realizaram grandes viagens, arriscando, talvez, as suas próprias vidas para se estabelecerem noutros países, próximos da biblioteca ambulante. Algo semelhante acontece com as histórias, acolhidas na biblioteca ambulante. Originárias de todas as partes do mundo, procuram refúgio nas bibliotecas, onde são lidas em segurança, por leitores curiosos de saberem outras vivências, acontecimentos testemunhados por quem as escreveu. Para lá da imaginação, há sempre uma realidade, é nesta última que tudo começa, extravasando, quando o autor avança para outros patamares da criatividade, sempre a derramar emoções. A escalada do sol faz aumentar a temperatura, a fina cortina de nuvens, não impede esta de fazer o que quer com o viajante das viagens e andanças. Advinho o segundo período do dia, não irá ser fácil, sem sombras que protegam a biblioteca ambulante, a leitura vai ser complicada. No café a Vuelta encanta alguns, gostam de ver (eu também) os ciclistas a pedalar por estradas estreitas, a subirem a níveis difíceis ao comum dos mortais. Curva, contra curva, olhando para trás não vá algum adversário surpreender com uma pedalada mais forte. Não tiram o rosto da televisão, há outros que se resguardam do calor expondo-se ao ar artificial, a refrescar o estabelecimento de uma ponta à outra. A solidão, fica na rua, ouvem as conversas, quando há oportunidade falam para o ar, pode haver quem apanhe as palavras proferidas. Agarram as palavras soltas, em conjunto constroem diálogos. As vozes elevam-se no ar saturado de silêncio, gargalhadas à mistura, o tempo assim passa mais depressa, até que a noite os devolva ao marasmo. Estacionam os veículos cara a cara com a estrada, para se irem refrescar com bebidas, pouco depois aí estão eles de volta. Põem os motores em funcionamento, partem apressados a rasgar os pneus no alcatrão, como se a estrada fosse uma pista para explanarem os problemas que os atormentam. Estão sempre a entrarem e a saírem do café, os afazeres podem esperar, trabalhadores, forasteiros, viajantes do tempo. As histórias misturam-se umas com as outras, chegam e abalam depressa, no ar ficam palavras, vários dialectos, para mais tarde, na mesa do jantar, com a mulher, com os filhos, com as paredes brancas, reporem o que ouviram.