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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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A súbita, subida da temperatura, esmoreceu o viajante das viagens e andanças. Na biblioteca ambulante, sonha com a praia, a ler numa espreguiçadeira, a refrescar-se nas águas do rio. As portas abertas permitem a circulação do ar fresco, a agilidade dos raios solares penetrarem para beijarem as histórias. Trazerem esperança há presença de mais leitores, de curiosos a espreitarem as novidades nas primeiras páginas dos jornais diários. A propósito das próximas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, questionei uma leitora, onde estava nesse dia há cinquenta anos atrás. Respondeu que vivia em Alverca, em casa de uma tia. Tinha 16 anos e trabalhava num supermercado. Soube pela rádio do acontecimento. Umas horas depois os géneros alimentícios do estabelecimento esgotaram-se. As pessoas com medo, recorreram deste modo, suspeitando de algo terrível, lhes poderia acontecer. Afinal tudo terminou da melhor maneira, uns dias após a queda do regime fascista, engrossou um enorme conjunto de manifestantes pela liberdade, a percorrerem a distância entre Alverca e Vila Franca de Xira. Não se esquece de um marinheiro, agarrou-lhe o braço levantado, e disse-lhe em voz alta, para se manter o que tinham alcançado tinham de continuar a trabalhar muito. As bibliotecas ambulantes, já transitavam há cinquenta anos passados, nas poucas estradas alcatroadas com acessos às aldeias, as acessibilidades não davam facilidades. Muitos caminhos eram em terra, até as ruas das aldeias, não davam confiança às mecânicas das carrinhas a transportarem histórias. A leitura nas bibliotecas ambulantes de então, foi importante para os homens do presente, não se podia ler tudo o que se queria. Quantas leituras foram realizadas, sonegadas, na escuridão das noites, à luz de um candeeiro amedrontado. O tempo avançou, as bibliotecas ambulantes acompanharam-no, com menos intensidade nas populações. Perderam o impacto, outros suportes na informação substituíram os livros,  as portas da instituição que patrocinava as bibliotecas ambulantes nas viagens e andanças com letras, fecharam-se na altura. Muitos ficaram presos nas aldeias, outros fugiram. Apagaram-se os sonhos, as aldeias perderam densidade populacional, as viagens nas páginas das histórias ficaram pelo caminho, e nas estradas que levavam às aldeias. Felizmente houve municípios a manterem as bibliotecas ambulantes, e as histórias nas suas aldeias. Cinquenta anos depois a liberdade na leitura não tem fronteiras, as portas estão abertas a todas as pessoas, e aos credos. São espaços estreitos, mas enormes a darem possibilidades a quem os preenche. Vivam as bibliotecas, vivam as bibliotecas ambulantes.

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