Aprendam a viajar...
A vida no largo não está fácil, o vento atravessa o espaço levando tudo à frente sem pedir permissão. Só os automóveis se atrevem a defrontar esta desordem, vindos das ruas que desaguam no largo, para imediatamente se enfiarem noutras. Nas extremidades onde o sol embate, nas paredes das casas, onde a água brota da terra sem parar, estão as pessoas. Umas ainda se abrigam debaixo das coberturas, nas esplanadas de dois cafés que disputam a clientela convergente. Uma concorrência leal sem arremessos entre os estabelecimentos. Junto ao fontanário as mulheres soltam palavras em som alto, para outra que está a alguns metros de distância, sentada diante de um dos cafés. A biblioteca ambulante estacionada no seu cantinho, ainda é um objecto estranho, continua a ser olhada de soslaio por muitos. Desconfiados, caminham rapidamente na direcção das histórias, são setas a passar muito perto, nunca chegam a acertar no alvo. Venham donde vierem, algum dia atingirão a biblioteca ambulante. E que as lesões provocadas pelos instrumentos perfurantes, movidos pela curiosidade, dêem origem a brechas onde jorrarão palavras impossíveis de estancar. Ao mergulharem neste mar de letras, aprendam a viajar, a ir e a voltar.