As árvores são histórias
Serpenteando a estrada, a biblioteca ambulante e o viajante das viagens e andanças a dirigi-la, não se cansa de engolir quilómetros de asfalto, na direcção da aldeia do Crucifixo e vila do Tramagal, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. No meu lado direito, mais em baixo, saltando a linha do caminho de ferro, o rio corre em liberdade depois de lhe ser concedida a passagem no açude que o trava quando o homem assim o entende. A aldeia alonga-se desde o seu princípio, pelo planalto adiante, na fronteira com o concelho de Constância. Uma ligeira aragem é apreciada por quem aqui criou raízes, ainda assim não engana a temperatura desta tarde. Até agora só as folhas mortas a rolarem pela estrada sopradas pelo vento se acercam das histórias, um carro ou outro aceleram pela estrada fora fugindo da pasmaceira, as badaladas do sino da igreja notificam os crucifixenses das horas. No Tramagal as vozes estrindentes anunciam a chegada da pequenada do Jardim de Infância, a fileira aproxima-se inquieta, acabam de assistir a uma representação de magia, finalizada musicalmente. Encheram o espaço da biblioteca ambulante, as vozitas claramente alteradas, choros e sorrisos, as histórias alarmadas com a situação pularam para as mãozitas, muitas só com esforço e destreza conseguem folhear, passando as páginas bruscamente e desordenadamente. Mesmo assim o desassossego continuou, por muitas tentativas da professora de pô-los na ordem, as histórias desta vez não tiveram efeito apaguizador na criançadada. No largo dos plátanos fui envolvido pela frescura, o esforço das árvores abanando as suas copas é despercebido por quem se protege nas suas sombras, por quem caminha no largo. Não se apercebem que as plantas lenhosas são suas amigas, não as abraçam, não as sentem vivas, vitais no meio em que habitamos. As árvores são histórias!