As duas foram alvos ...
A buzina da carrinha do padeiro chamou as mulheres que surgiram do nada. Não sei se foi magia, mas a presença destas segurando os sacos nos quais o padeiro mete o pão fresco estavam mesmo à minha frente no largo, onde a biblioteca ambulante permanece e o padeiro espera pelas clientes. São os trilhos do pão, este alimento apareceu há muitos anos atrás, antes da escrita acontecer, das cidades se erguerem. Depois vieram os caminhos do pão moldados por mercadores, por guerreiros, por multidões anónimas ao longo dos séculos, os anos passaram, rompeu a escrita, a leitura nos vários suportes conhecidos, assim como o transporte do pão, passou ela também a palmilhar caminhos difíceis, de terra, de pedra, a transpor longas planícies, a subir e descer montanhas que tocam no céu, a interferir na leitura das estrelas, a dar alimento à mente. Acredito que no passado longínquo estas duas fontes de alimento, o pão e a escrita se tenham cruzado, permanecido nos mesmos lugares. As duas foram alvos nas disputas entre os homens, na guerra da actualidade, precisamente na terra mais fértil para a semente do pão germinar, quem poderá garantir se não são outra vez o resultado de mais um conflito. Nos dias de hoje, nas viagens e andanças com letras, não é raro o dia em que a biblioteca ambulante se cruza ou permanece no mesmo lugar onde também está a carrinha do padeiro. O pão atrai muito mais gente em relação às histórias a cativarem leitores assíduos, embora um ou outro usem os dois alimentos. Não é por esta inferioridade que as histórias vão desistir, vão continuar a trilhar a seguir o pão, a saciar e a seduzir de aldeia em aldeia.