As histórias iluminadas
A noite quase alcançava a biblioteca ambulante, no seu curto percurso entre as aldeias da Concavada e do Pego, ainda assim foram as histórias a permanecer à frente. As pancadas do relógio na torre da igreja dão as seis horas, não fosse a iluminação pública, a escuridão seria assustadora, o para-brisa da biblioteca ambulante está saturado de minúsculas gotas de água, parecem ser cabeças de alfinetes, mas tudo não passa de chuva. A temperatura combalida, possivelmente a forçar as lareiras a animar os lares, e as chaminés a engasgarem-se com as primeiras fumarelas no Outono. As histórias iluminadas com a luz artificial, projectadas do tecto da biblioteca ambulante, atingem os olhares de quem passa no passeio, até os ocupantes dos automóveis afrouxam a marcha, olham atentamente para o interior, voltando logo depois a acelarar. O João até ao momento foi o único leitor a ficar, tirou, folheou, voltou a colocar histórias, estas de cada vez que eram exploradas pelos seus olhos, entusiasmavam-se, as letras aproximavam-se pulando das páginas que avançavam vagarosamente, empurradas por dedos experientes no manuseamento das histórias. Depois de ter repetido os mesmos movimentos inúmeras vezes, saiu com as histórias selecionadas que o acompanharão no período de afastamento da biblioteca ambulante da sua aldeia.