As manhãs são melhores ...
O calor capturou as aldeias da minha terra, o torpor aprisionou o viajante das viagens e andanças, as palavras prosseguem lentamente a ocuparem o espaço em branco. Há leitores que arriscam exporem-se ao sol para devolverem histórias, não ficarei magoado por quem não vier, compreendo perfeitamente que não queiram encarar o inferno. No verão levar histórias, permanecer na sombra protegido sob a ramagem das árvores, ao sol quando não há outras possibilidades, é difícil colocar as histórias nas mãos dos leitores, mesmo encontra-los. Só aqueles que não conseguem estar sem o conforto das palavras vêm ao encontro da biblioteca ambulante. As palavras refrescam, alimentam, dão qualidade a novas ideias. Telefonam a prolongarem a permanência até à próxima visita, estão de férias, ausentes, numa praia qualquer a ver o mar. Não lhes apetece abandonarem a frescura das casas, dos espaços agradáveis que circundam as propriedades. As manhãs são melhores para os capturar, à boleia das carrinhas do pão, há sempre probabilidades de avistar leitores. Vêem a biblioteca ambulante acenando-lhes, rapidamente aproximam-se, ou vão recolher as histórias abandonadas, numa mesa, no quarto, ainda por ler. Na peça de mobiliário, junto à porta de acesso, assim não esquecem o dia de as devolverem. Depois, o sol ultrapassa o seu ponto mais alto, fica violento, e não há vivalma. Apesar dos indícios da presença humana, do património rural, estes não retiram a palavra deserto, lugar desabitado, nas aldeias e lugares nos meses de verão.