As páginas não tinham ...
Desvio o olhar para o horizonte e vejo a esperança como uma linha ténue, regresso com o mesmo olhar desesperançado ao ponto de partida. Vejo à minha frente uma leitora desesperada procurando numa revista desenhos com rendas que nunca tenha experimentado ainda. Só pode ser fantasia da minha mente, não é, ela está mesmo aqui defronte do rosto surpreendido, do viajante das viagens e andanças. Na penumbra, inspeccionou várias revistas, falou sozinha, falou com as histórias, falou comigo. As páginas não tinham estabilidade nas suas mãos, os dedos revistavam cada folha das revistas, apontava para um desenho, mostrava-me. Eu oscilava a cabeça, sempre com um sinal de aprovação ao que me explicava. Continuava sem perceber onde a agulha puxava a linha para construir o desenho estampado na revista. A tarde desapareceu por entre os bordados e as rendas, aprendi mais um pouco. A leitora foi com as revistas seleccionadas, a falar nas toalhas que bordaria para os filhos, apesar deles não se interessarem muito pelo trabalho manual da mãe.