As palavras estão difíceis
As palavras estão difíceis de correr na folha de papel, não sei se de um bloqueio ou simplesmente não querem desprender-se da mente, e da memória. A caneta cheia de tinta está pronta na linha de largada, sem saber ainda que ritmo irá desenvolver, até como terminar nas linhas finais. Os assuntos também estão de quarentena, é como escrever numa pista oval, a caneta parte, passa sempre pela linha de partida e chegada até o número de voltas acabar. Fora deste redondel há tantas matérias, as palavras seriam outras, a caneta seria uma maratonista, escorregaria consoante o impulso dado pelos dedos, possivelmente o escritor entusiasmado, dando asas à imaginação, com as memórias escancaradas, abriria uma torneira de letras que cairiam no papel formando palavras sedentas de frases. Muitas destas teriam que se esforçar, a caneta teria de se sujeitar à condição de atleta de corta-mato, tal não é a dificuldade que o escritor tem para atingir o final do que escreve. Assim estou eu neste dia soalheiro e frio na casa grande das histórias, sem leitores, sem viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. A barreira é geral, até as bibliotecas que sempre usaram as portas sem fronteiras, se transformaram em abrigos, onde encarregados da conservação, da classificação, distribuição de livros e difusão da leitura, encolhidos nos seus espaços, afastados uns dos outros, aguardam que o ciclo se complete.