Chegou devagarinho ...
- O patrão foi à Bemposta! Foi a expressão que a mulher do Gregório mencionou, único leitor da aldeia do Vale de Açor. – Eu aguardo! Respondi-lhe! Com esperança que o Gregório não se atrasasse nos seus afazeres na outra aldeia. O sol espreita, o frio foi dar uma volta, o tempero matinal é bom. A biblioteca ambulante tem as portas abertas, a convidar as pessoas da aldeia a espiarem as histórias. A seguirem o exemplo do Gregório, leitor desde o primeiro dia da visita da biblioteca ambulante na sua aldeia. Façam como o sol, tragam calor às histórias, mais luz ao vosso conhecimento, o ensombrar a seguir não trará a solidão. Primeiro a sombra, depois a pessoa, finalmente o leitor, com pequenos passos, para alcançar grandes saltos e crescer através da informação. Nas Bicas, aldeia próxima do Vale de Açor, as leitoras justificavam as suas ausências na anterior permanência da biblioteca ambulante, preocupadas. Não dei importância aos relatos, incentivei-as a olharem as histórias nas estantes, motivando-as a escolherem outras. Há sempre afastamentos por motivos diversos, o que deve ser levado em consideração é a leitura, mesmo que não seja praticada de acordo com as regras estabelecidas. Não quero deixar de possuir leitores por situações irrelevantes. São as peças principais do motor da biblioteca ambulante, por eles, criaram-se as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Rumando diariamente aos quatro cantos do concelho, colocando o ponto final do dia de hoje na aldeia de S. Miguel do Rio Torto. O largo da aldeia não tem ninguém, oiço vozes, não vejo os transmissores. O dia fecha-se num tom cinzento, apesar de ter existido cores alegres, diálogos, leitores, na biblioteca ambulante. Lá fora está a chover, as primeiras águas deste dia de viagens e andanças. Chegou devagarinho, não a ouvi bater à porta, sabia que vinha, não desta maneira. Quem ainda não veio foram os leitores desta aldeia, os pingos delicados da chuva não os trarão, serão as histórias a cadeia que os prende.