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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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Uma caravana de nuvens  esconde sem pressa o céu azul, está assente o regresso da chuva ao território das viagens e andanças com letras. O pequeno largo acolhe a biblioteca ambulante, a padeira pouco se demorou, dois clientes, partiu a tocar a buzina, a despertar os mais distraídos que o pão está de passagem. O frio não traz ninguém para a rua, há bem poucos dias andavam os velhos nas hortas, ao sol, sachando, plantando couves. Penteavam a terra com as enxadas, a pouca força que lhes resta não dá para mais. Um vício saudável, e subsistente, conseguem assim poupar as parcas economias, os filhos destes é que não estão muito pelos ajustes, preferem os pais acomodados, uma precaução face a um qualquer acidente que os atire para uma cama de hospital, ou mesmo um lar de idosos, o mais frequente nas aldeias. Só assim se compreende a quantidade de casas vazias, um legado deixado ao abandono, o declínio dos lugares rurais. O vento convocou-me a ouvir os seus queixumes, no tumulto dos assobios e das murmurações, um leitor assumiu-se com as histórias para devolver. O período que esteve presente falou da sua horta que não está capaz ainda para receber sementes e plantas, escolheu desta vez uma história de receitas, gosta de inovar nos cozinhados que faz. Até morrer está sempre a aprender, segundo ele, acredito, pois tem sido um leitor assíduo, nos dias da presença da biblioteca na sua aldeia. O vento continua confuso, para além da insensibilidade, não consigo decifrar o que pretende. O sopro constante seca a pele das mãos, abre gretas, expostos, os membros superiores sem protecção, aguentam o manuseamento das alfaias agrícolas, a humidade da terra, mas desgastam como apoio ao trabalho. Não faria mal nenhum se segurassem uma vez ou outra histórias, sentirem as folhas macias, a virarem com os dedos páginas delicadas, assim fossem os dias ásperos que ultrapassam ao longo dos anos. Foram as infâncias complicadas que os atiraram para uma literacia permanente, acreditam que  o livro é um objecto difícil de alcançar. Há esperança, pois, nem todos são assim, com a cumplicidade da biblioteca ambulante, acreditam nas suas capacidades.