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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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Os primeiros pingos de chuva começam a cair, sobre o vale, a charneca beija a planície apertada pela intromissão natural do declive. As primeiras flores de cor branca, da planta, conhecida como esteva, estão a aparecer. De um dia para o outro a charneca ficará repleta destas flores, uma página em branco onde o silêncio escreverá sobre a harmonia e a tranquilidade, a solidão sobre as ausências. Irão misturar-se com as flores amarelas predominantes no momento, as do tojo, com folhas espinhosas. A erva verde é a base promiscua para estas duas cores, não retirando importância a muitas outras plantas selvagens, cujas flores de cores diversas dinamizam o vale. O conjunto provoca sempre no viajante das viagens e andanças, motivação para continuar e regressar outra vez, a alegria do vale é contagiante. É uma leitura, sobre aventuras, memórias, passagens de uma meninice veloz, para se conseguir agarrar a paisagem, a fauna e a flora. Com o crescimento e após prolongada ausência, a biblioteca ambulante foi a oportunidade para voltar a percorrer a charneca e as aldeias desta parcela da minha terra. O olhar também está diferente, observar, saber, perceber e ler o vale, as pessoas, os costumes, são páginas sem fim, cheias de emoção. Depois de visitas seguidas a trazer histórias, conquista-se os olhares, no início interrogativos, actualmente, esclarecidos, e conhecedores do papel da biblioteca ambulante nestas paragens. A dificuldade está na atracção, a sua função não está a ser cumprida. Não há leitores suficientes, e somente um deles vem esporadicamente escolher uma história. Nas outras aldeias próximas, a superioridade na leitura não é motivo para festejar. Quem escreve histórias, é conhecido no país pelas mensagens desenvolvidas nos livros publicados, podia ser incentivado a alcançar as aldeias, dar-se a conhecer, com a sua presença a estas pessoas. Trazer a sua informação pessoalmente. Descentralizar os autores é importante, não basta estacionarem nas cidades, as aldeias possuem gente capaz para os ouvir e perceber. A biblioteca ambulante fará o resto, levando as histórias destes, abrindo as emoções escondidas, mostrando horizontes impossíveis de serem partilhados sem a leitura. Vamos pensar no assunto, trazer os criadores de escritas, empurrar as pessoas nas aldeias para o exterior do espaço onde estão. A chuva abateu-se violentamente no vale, um sinal da possibilidade mencionada, para as pessoas, para as aldeias.