Acho que não vai correr bem, mas o meu apego e vontade de compreender o livro foram mais fortes. Há muito que cobiçava ler a história, e foram muitos os esforços para a obter. Então numa tarde acanhada tomei a decisão de abrir o livro, desejando que me omitissem do lugar onde estava. Foi assim que iniciei a leitura, após algumas páginas mergulhado na narrativa, detetei que algo me puxava. Uma corrente líquida de cor escura com um forte odor a tinta, não era um corante qualquer, mas sim tinta de que nos servimos para escrever. Quase me afogava, ainda sem entender, agarrei-me com toda a força que tinha a uma pena que por ali passava. Não demorei muito tempo a compreender, após estar restabelecido do que me estava a acontecer, a pena não era mais do que o corpo ao qual se prendia o aparo que deslizava numa folha, para trás já eram muitas as palavras e frases escritas.. Agora o aparo ganhava velocidade, quem o empunha aparenta estar com determinação de concluir a história, eu vacilo de um lado para o outro, a insegurança é muita. A impetuosidade e a destreza na criação de letras, palavras e frases não têm limites neste aparo. Acho que não vai correr bem esta aventura que estou a presenciar, a torrente de tinta provoca ondas de emoções, as palavras permanecem tristes, alegres, derramam lágrimas, soltam sorrisos. Eu é que não estou a achar graça nenhuma a tudo isto, acho que não vai correr bem. Sinto cada vez mais que o aparo perde velocidade, estanca, arranca novamente, mais lento, pressinto o final da narrativa, começo a ficar com atordoamentos, acho que não vai correr bem, perco a lucidez. Regresso, abro os olhos, continuo sentado no sofá com o livro na mão.