Duas mulheres ...
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O sol bate na biblioteca ambulante, na rua, um velho segue o traço preto, orientando-o em direcção ao Centro de Dia. Onde ficará até ao final da tarde, depois chega a noite, não vem sozinha, a solidão instala-se na casa do velho. É visita habitual, o velho não estranha, dialoga consigo próprio, com as memórias penduradas numa parede. A mulher há muito que partiu, na aldeia não tem mais ninguém, é no Centro de Dia que passa os dias, junto a outros na mesma condição. O mesmo acontece noutras aldeias da minha terra, velhos retirados. As nuvens regressaram, na aldeia da Barrada deslocam-se lentamente sobre a biblioteca ambulante. Duas mulheres conversam, não as vejo, ouço as suas vozes. As palavras não se distinguem, só um ténue rumor permanece no ar, poderá ser uma conversa interessante entre as duas. Talvez, sobre a biblioteca ambulante, as histórias que traz às aldeias, ou sobre a mais recente notícia. A «Manta de histórias», o trabalho realizado por mulheres de algumas aldeias da minha terra. Na união de esforços da Cres.ser. Pedaços, memórias perpetuadas em tecidos gastos pelo tempo. A preparem a visita à exposição destes trabalhos no próximo sábado. Seria formidável se tal acontecesse, não só, com estas duas mulheres, com todos os leitores da biblioteca ambulante, com as pessoas das aldeias a encherem o mercado municipal, onde vão estar as mantas expostas.