Este desembaraço do rio ...
Os campos acumulam charcas instantâneas onde as cegonhas se recreiam, as bermas que ladeiam a estrada levando a biblioteca ambulante não conseguem suster a água, atravessando a mesma sem vergonha ao ponto de a submergir. As ribeiras transformaram-se nos rápidos do Grand Canyon. A charneca é uma cascata enorme, a água brota em todo o lado, nasce do interior da terra, rasga trilhos, causando enormes fissuras longitudinais. Homens e máquinas não param, limpam os caminhos de água e lamas. Toda esta água corre na direcção do grande rio ibérico, orgulhoso pelas suas águas estarem em igualdade com ambas as margens. Este desembaraço do rio é igual ao da leitora que esperava a biblioteca na aldeia do Tubaral, uma surpresa agradável, soube o motivo da interrupção da sua presença nas últimas visitas, uma maleita deitou-a numa cama do hospital, a primeira em setenta e poucos anos, segundo ela. Refeita, trouxe a história que a acompanhou nos dias menos bons, substitui-a por outra para a recuperação ser melhor. A tarde dilui-se na água que não para de cair, no Monte Galego os leitores apareceram e foram-se num abrir e fechar de olhos. No largo do Coreto, em Alvega não se apresenta nenhuma banda para um concerto, mas num lugar mais afastado no espaço estão enormes raízes e partes separadas de árvores alinhadas para se inflamarem na véspera de Natal até ao Ano Novo. Imagino o espaço cheio de gente em volta do braseiro, beberricando copos cheios de vinho, emborcando minis, retirando uma vez ou outra da margem da grande fogueira pedaços de carne a fumegar para enganar o estômago cheio de alegria. Termino a crónica com o sol a mostrar-se numa clareira de céu azul, vamos lá saber o que se passa afinal.