Falam com as mãos ...
Tenho saudade dos dias de sol, de manhã à noite, das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, embriagadas pelos odores florais, ao longo dos percursos. As pessoas nas aldeias reclamam do excesso de água nas terras cultiváveis, do frio que devora os dias, dos ossos corroídos pela passagem do tempo. A chuva voltou, na aldeia da Ribeira do Fernando, está a molhar as ruas, a biblioteca ambulante, os desprevenidos. A conversa entre os três homens, no acesso à entrada do Café Areias, é merecedora de atenção em todos eles. Falam com as mãos, levantam os braços ao mesmo tempo, exploram o espaço, parecem maestros a contarem histórias. Actores na sua terra, num palco, composto por demasiados cenários, para os habitantes da aldeia. O sol espreitou por uma fissura nas nuvens, não passou daí, esta fechou-se empurrada pelo vento. A tarde até ao momento não trouxe leitores, a casa de um deles tem as persianas corridas para baixo, possivelmente não está. Chove outra vez, saio da aldeia sem sucesso, ao contrário, a charneca está a ter um resultado gratificante com a chuva. O solo fica com a capacidade para armazenar e conduzir a água subterrânea para os poços, minas e nascentes. As ribeiras continuam entusiasmadas, vê-se quando as transponho, as suas águas correm, saltam os obstáculos sem problemas, reunindo-se umas com as outras, tornando-se num só, no momento em que desaguam no grande rio ibérico.