Felizmente a leitura...
A biblioteca ambulante mais parece o aparo de uma caneta a escorregar nas folhas de papel. Serpenteando a estrada que atravessa a charneca, a caneta não se cansa de enfeitar com palavras as folhas, deixando um rasto de histórias para trás. Continuando sem parar de preencher com tinta, folhas que se vão sobrepondo umas às outras, com margens ilustradas por rebanhos que se alimentam da erva fresca. Não há nada melhor para reduzir as tensões do que ser personagem nestas folhas cheias de palavras. Letras, umas vezes escritas apressadamente, outras mais lentamente, aqui e ali, com travagens de prevenção, não vá haver algum erro e borrar tudo no final de alguma curva. Sem mais para escrever que me acalme a alma inquieta perante as ausências daqueles que lêem, não sei o que trará as próximas viagens e andanças com letras. Privados de alguma liberdade, entrincheirados nas hortas, em casa, são poucos os que se atrevem a chegar às histórias. Bem os compreendo, como eles, ando eu afastado do turbilhão, das filas longas que acompanham as ruas para prestarem vassalagem à Zaragatoa, a nova imperatriz do mundo moderno. Felizmente a leitura envia-me para longe disto tudo, montado nas palavras a levar histórias pelas aldeias da minha terra, a dar continuidade aqueles que o fizeram na antiguidade até aos dias de hoje.