Fiquei curioso para saber ...
O sol enche o largo, uma clareira própria da cidade, rodeada por edifícios em Alferrarede. Com intervalos longos é atravessado por gente apressada, desinteressados na biblioteca ambulante e das suas histórias. O carteiro com o seu veículo cheio de correspondência, contas para pagar, invade o largo para estacionar defronte da entrada de um deles. Sai do interior do mesmo com uma resma de envelopes para distribuir nas respectivas caixas do correio de cada condomínio. Um dia destes vou fazer o mesmo, substituindo os sobrescritos por histórias. Não são valores de despesas para pagar, são livros e autores para conhecerem. Fiquei curioso para saber como seria a recepção dos mesmos. Ao abrirem as caixas do correio, deparariam com as histórias, diversos géneros, a literatura no seu melhor, para ser lida por todos no prédio. Trocavam a correspondência, todos liam as histórias da biblioteca ambulante, as que o viajante das viagens e andanças colocou pelas aberturas das caixas. O sucesso do conceito alastraria pelos restantes edifícios que cercam o largo. Todos se envolveriam no romance, na poesia, saberiam da vida de pessoas através das biografias, deixariam os mexericos para trás. A ciência, a história, a arte, acrescentariam mais conhecimentos, aos moradores dos edifícios que puseram cerco ao largo. O vento sacode a copa dos enormes plátanos que vigiam o largo. Vejo a festa anual que aqui se realizava, os plátanos são testemunhas dessa romaria. Ouço as vozes das crianças a brincarem, aqui perto, mas longe da biblioteca ambulante para não conseguirem a avistar. As palavras leva-as o vento, o largo está cheio delas, só as não vê quem não quer.