Ideal para histórias empolgantes ...
As aldeias a norte do território, situadas entre os rios Zêzere e Tejo, continuam na obscuridade, cenário ideal para histórias empolgantes, daquelas em que o cansaço durante a leitura tarda ou nunca surge. O filme ou a história da biblioteca ambulante, personagem secundária a percorrer caminhos no centro da névoa, da floresta tanta vez transformada em espectro, técnica utilizada na indústria do entretenimento, uma película onde as pessoas têm os papeis mais valiosos, adaptando-se a diferentes décor, sobrevivem. Um itinerário no interior, lugares de vazios e solidões abundam no ambiente de várias acções dramáticas, nada fáceis para produtores ou realizadores. Aqui os actores desempenham o que melhor sabem, fazem das tripas coração, não decoram argumentos, improvisam muitas vezes, é tão bom estar a observa-los projectados na tela da vida. Personagens curvados, actrizes com indumentárias simples, sem qualquer pingente pendurado nas orelhas, ao redor do pescoço. Uma vez ou outra consoante a acção, na cabeça colocam cestas contendo legumes, são melhores que a Carmen Miranda a equilibra-los. Homens apresentando olhares fatigados, com a vista arraigada de cores vermelha e amarela, refugiam-se no álcool após trabalhos incertos, refeitos semana após semana, a fugirem de qualquer outro rendimento do qual já não conseguissem libertarem-se, como acontece com muitos na bebida. A caracterização dos rostos é morosa, parece que leva anos a modificação, faces enrugadas a lembrar a terra rasgada pela enxada, mãos grossas, com caules e fendas minúsculas, a pele ressequida do sol e do frio. Trabalho extraordinário este da maquilagem. O filme prossegue, o que salta à vista é a naturalidade dos actores, a simplicidade e humildade, o sorriso fácil, para conseguirem este desempenho são pessoas que não desistem com facilidade. Termino, saindo da sala de projecção a claridade no exterior fere a vista habituada à ausência de luz, será um sinal. Um filme para ser visto por todos, um filme que muitos não querem ver.