Isto, sou eu a cogitar ...
Estou na aldeia da Lampreia, não se vê ninguém na rua, excepto quem abre ou fecha o portão grande de cor azul, situado do lado oposto da estrada, ao local onde me encontro. As entradas e saídas foram algumas, pensei que as pessoas da aldeia estivesse todas ali, na quinta, guardada por muros pintados de azul e branco. Não consigo vislumbra-las como quero, são rápidas a entrarem nos veículos. O sol e o vento são os únicos a visitarem a biblioteca ambulante, envolvidos na rua principal, disputam qual deles entra primeiro no espaço das histórias. A sombra também lá está, mas esta pertence ao sol, afastando-se para se afogar no horizonte, o sol deixa a sombra aproximar-se. Chega atrasada, e não vai a tempo de estar com as histórias, a biblioteca ambulante nesse momento estará noutra aldeia. Nesta última, a tranquilidade não existe, a passagem sem limite de veículos motorizados, ligeiros pesados, motociclos, motores barulhentos constantemente a atormentar ouvidos frágeis. Indiferentes são os que estão sempre sentados nas esplanadas dos dois cafés que ladeiam a estrada que nunca se cala. Sorte tem o proprietário dos mesmos, há sempre cerveja e garrafas perfiladas nas mesas, ali estão a tarde inteira, a falarem dos outros, a verem o trânsito diferenciado, conjecturando uns com os outros os modelos dos automóveis aproximando-se, ouvindo os movimentos esforçados das máquinas a passarem diante daqueles olhares esgotados de observarem o tempo sem novidades. Isto, sou eu a cogitar, a sentir-me assando vagarosamente, numa fritadeira a vento quente e seco, confiando na aparição dos leitores. Para além disto não há mais nada de relevante, os jornais, as revistas os livros, as músicas os filmes, não são para eles, uma duas vezes por mês permanecem na aldeia com a biblioteca ambulante. Amparados no ócio, não têm curiosidade, não entram, não querem viajar, saírem daqui para fora.