Letras atiradas às folhas...
Na aldeia do Souto o frio e a chuva propagados ainda não chegaram, o sol envolve a aldeia, o azul do céu é uma auto-estrada a perder de vista. A primavera continua a manifestar-se nos pequenos pormenores. Os leitores ausentes pela força maior de manterem as hortas perfeitas, sem ervas invasivas, canteiros alinhados, geometrias desenhadas com o apoio das alfaias agrícolas rudimentares. Arquitectos primitivos desenhando mentalmente e construindo estruturas onde as plantas se desenvolvem, as árvores prometendo frutos saborosos, assim as flores devolvam os rebentos sequiosos da sua utilidade. Ali estão, com as mãos nos bolsos, olhando o trabalho realizado, todos os dias mimam as hortas, contemplam-nas como se isso acelerasse o crescimento das hortaliças e legumes, as favas estão altas, sem flores e vagens não servem para nada. Não perdem a calma, voltarão sempre até ao dia em que levarão os grãos da planta ao tacho, unindo-os com a carne e umas ervas aromáticas. Um pitéu de fazer crescer água na boca, simples e saudável que só a terra pode dar. Nesta modéstia também a biblioteca ambulante tem no seu quintal, letras atiradas às folhas de papel, a terra dos autores, semeadores de histórias. Nos canteiros, à disposição de todos estão enredos, contos, aventuras, epopeias, descrições, prestes, alimentos para serem arrancados ou colhidos, dependendo do apetite de cada um.