Mais próximo de quem lhe enviava a saudade...
O Ti Chico comprava pão, ao mesmo tempo questionava o padeiro se queria comprar mel, tem para cima de cem colmeias, segundo ele. Ouviu do padeiro que o avô praticava o mesmo ofício, não conseguindo concretizar um possível negócio. Na aldeia as manhãs no largo são sempre assim, sentadas, as pessoas esperam pelo homem que traz o pão. A biblioteca ambulante não tinha calado o motor e o viajante das viagens e andanças já tinha descoberto a existência de um furo num pneu. A sorte esteve com ele, estacionado no lugar onde sempre se demora e onde os leitores se abeiram. As histórias podem estar descansadas, não falharão qualquer compromisso. Agora é o carteiro na sua carrinha, apressado a deixar envelopes nas caixas do correio, certamente são facturas para pagar, avisos de pagamentos em atraso. Houve envelopes que se entregavam num tempo já longínquo, os que traziam folhas escritas, com letras arrumadas, algumas vezes desenfreadas por acontecimentos menos bons. Muitos libertando essências, para quem lesse a correspondência, sentir-se mais próximo de quem lhe enviava a saudade ou o sentimento. Quantas histórias terão nascido deste ir e vir das palavras transmitindo emoções, descrevendo lugares, empurrando a vida das pessoas de então. A biblioteca ambulante não entrega correio, mas entrega histórias, muitas delas foram geradas pela troca de correspondência, cresceram e amadureceram, para serem lidas por todos. Recebe entusiasmos, tristezas, demonstrações de confiança por parte daqueles que estão isolados, vivendo na solidão, envelopes vivos, que se abrem para despejar o que lhes vai na alma.