Mãos
Nuvens baixas e cinzentas atravessam o espaço terrestre das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. A biblioteca ambulante ganha ânimo no cais das partidas e chegadas, as histórias sacodem o pó das brochuras, amaneiram as páginas, aprumam as posturas, estão desimpedidas para os leitores da aldeia do Crucifixo e vila do Tramagal. Mãos pequenas, mãos grandes, mãos rudes, mãos macias, mãos novas, mãos velhas, esperam pelas histórias. Muitas partes côncavas já têm saudades de possuir as lombadas poisadas. Também as há, que ainda um pouco à pressa, terminam a leitura de um capítulo atrasado, a história não para quieta, impulsionada de uma mão para a outra, a biblioteca ambulante aproxima-se. No Crucifixo o céu não tarda a desabar a sua cor triste é sinal de que muita água vai cair no resto da tarde. No Tramagal não tombou nada, subiram as crianças do Jardim Escola, foram as primeiras a inundar a biblioteca ambulante com impetuosidade contagiante, não deixam o viajante das viagens e andanças indiferente. Pulam, choram, riem, das histórias nem se fala, as letras e as palavras embrulham-se de tal maneira que trocam de enredos. Instala-se o pânico, as ilustrações deixam de ver os lugares habituais, os diálogos não são os mesmos. Quando tudo estava a derrocar a professora com a sua experiência acalmou os gaiatos, e o viajante das viagens e andanças estabeleceu a verdade nas histórias.