Na partilha das memórias
A semana principiou um pouco atribulada, com a biblioteca ambulante já com alguns quilómetros percorridos, e o viajante a ser acordado de que não era dia de itinerários, mas sim de permanecer na cidade do início das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Foi a primeira vez que tal aconteceu, mas a vontade de levar e dar histórias é muita que não me lembrei de permanecer no berço dos percursos. Hoje inesperadamente a viagem foi desviada para outra aldeia e não a estabelecida para este dia, e lá fui conduzindo a biblioteca ambulante na direcção da aldeia do Vale das Mós, debaixo de um céu cinzento a entornar uma água delicada e pontilhada. A meio do trajecto lá estavam as mesmas mulheres que há dias atrás Afonso Reis Cabral, escritor premiado com o Leya 2014, descreveu no seu diário de viagem pedonal na EN nº 2, plantando pimentos. Infinitamente para mim o pimentão doce e as mulheres estão ali sempre que recorro a este itinerário na viagens e andanças, com o corpo curvado, de manhã de tarde, debaixo de chuva e sol, trabalho penoso mas necessário como ganha pão destas aldeãs, que começam o dia bem cedo, ainda de noite prolongado-se até ao final da tarde. Por fim a aldeia do Vale das Mós, a Sílvia aguardando a chegada da biblioteca no Centro de Dia com os seus frequentadores dos "oito aos oitenta", o motivo da mudança de hoje. As histórias alegres, progrediram em mãos pequenas e lisas, em mãos velhas e rugosas, gerações tão distantes mas unidas no convívio diário, na partilha das memórias dos mais velhos, e na genuidade dos mais novos.