Não abraçam as histórias
Outro dia nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, a biblioteca ambulante rumou até à aldeia de Martinchel, onde lá em baixo se ergue a parede que interrompe a água de chegar normalmente do rio Zêzere ao seu destino, o rio Tejo. Não é a única desde a sua nascente, mas é a que o torna mais barrigudo, lugar previligiado para praticar desportos naúticos, as histórias ficam afastadas, estão no centro da aldeia onde a passagem dos automóveis na estrada que a divide não tem fim. A temperatura um pouco subida é freada por algumas golfadas de vento, de vez em quando surge para relembrar que a primavera ainda está no seu início. Tem momentos em que rompem montados em bicicletas, miúdos para beber água na fonte, as brincadeiras provoca-lhes secura. Não abraçam as histórias expostas, que vêm ao encontro deles e doutros, a interrupção das aulas em protesto por melhores condições dos não docentes provocou este alvoroço na aldeia. A impaciência das histórias não os apoquenta, nem a curiosidade de invadir, permanecer na biblioteca, atravessar o seu universo de um lado ao outro preenchido por letras que nos ensinam.