Não se podem atrasar
historiasabeirario
O vento desagradável desta manhã avivou a minha alergia, sem se ter ainda ausentado defenitivamente andava distraída. Incomodado, com a ventania mais impetuosa lá fomos, a biblioteca ambulante rumando nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Serpenteando, a biblioteca ambulante rola com destreza, a inclinação não muito acentuada, torna-se fácil de ultrapassar, contudo sem se dar por isso, avançamos sempre a subir. A ramagem dos jovens eucaliptos que completam a nova paisagem não para quieta, oscila de um lado para o outro como se as árvores fossem bonecos sempre em pé.A aldeia de Sentieiras ficou para trás, mais um patamar alcançado, aqui a estrada com declives ligeiros, onde a direcção única acontece nalguns trechos, a biblioteca ambulante na boleia do traço direito, acelera um pouco mais, as histórias não se podem atrasar. Olhando em frente, avisto a aldeia do Carvalhal, erguida no planalto. Entro na rua principal que a corta ao meio na direcção da aldeia do Souto, com altos e baixos, não muito acentuados, algumas curvas moderadas, passo a acessibilidade para a aldeia do Carril e antes do Souto, mudo a direcção para a direita, outra aldeia, a Atalaia. Onde no seu limite, a estrada se precipita levando com ela a biblioteca ambulante a ziguezaguear a íngreme descida, lá em baixo a impressão que tenho de que o casario encolheu é notória. Repentinamente o meu coração quase cai no meu colo, um carro a subir no sentido contrário, numa curva tão apertada, nem tempo para travar um pouco, surge do nada. Não há problema, não é a primeira vez, a incógnita nesta descida está sempre presente. Transposto o lugar de Sentieiras do Souto, a estrada acalma, a sensação que tudo terminou, com um braço do rio Zêzere a lamber este lugar, a descontração dura pouco tempo. Enfrento com a biblioteca ambulante outro desafio, o oposto à descida anterior, sempre a subir, com as mudanças de força colocadas ininterruptamente, o volante constantemente direcçionando para a direita e esquerda até ao lugar do Carrapatoso. Finalmente o rio, lá em baixo perdeu as estribeiras, parece um lago, mas não é, devagar apreciando o panorama fluvial e toda a envolvência do espaço, termino a viagem na aldeia da Bairrada onde o destino me trouxe. Neste momento são os leitores que têm uma palavra a dizer!