Nunca adormecem, dormentes...
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Empurrada pelo vento abundante a ramagem do plátano grande, na aldeia do Vale Zebrinho, bate levemente na biblioteca ambulante. Embalando-a como as mães fazem com os filhos de tenra idade, as histórias deixam-se ir nos braços da árvore. A sonharem, nas viagens e andanças, nas famílias que as usam, no período que permanecem nas suas casas. No leitor que vivia sozinho, que as adaptou para ser feliz. Na leitora, no início inexperiente, depois, mais crescida no conhecimento adquirido na leitura. Nas aldeias, sabendo esperar pelas oportunidades, pelos leitores que as seleccionam. Na aldeia, o vento é o principal personagem, ao longe os latidos dos cães, disputando quem o faz mais alto, são simples figurantes, no vale. A paisagem verde ficou no passado, actualmente, são as cores, amarela e castanha, as dominadoras do cenário campestre que cerca a aldeia. O personagem principal é um exímio actor, não permite falhas a si mesmo, no texto que contém a acção. Por isso a biblioteca ambulante é um berço gigante a balançar as histórias. Nunca adormecem, dormentes estão aqueles que não lêem. As histórias estão de prevenção, a qualquer momento, um leitor pode abrir caminho pelo túnel de vento adentro, entrando com algum impacto na biblioteca ambulante. Prudentemente, as histórias abrem as folhas, percebendo o quanto o leitor necessita de folhear, ler. Agora o vento não está para balanços leves, furioso, sacode o berço gigante violentamente. Quer retirar as histórias do leito de madeira, desorganizar a ordem dos temas, arrancar as palavras. Impelir a biblioteca ambulante para a aldeia seguinte, a incluir palavras novas, no vocabulário das pessoas empenhadas na leitura.