O afluente de lágrimas ...
historiasabeirario
A força súbita e intensa do vento abana a biblioteca ambulante, as histórias balançam, as mais volumosas desequilibram-se, caiem no chão, o barulho do impacto é audível no largo da aldeia da Concavada. Os gritos de aflição dos personagens das histórias misturam-se com as conversas das pessoas no café, com as lágrimas dos que estão à entrada da casa mortuária, unida à igreja. A chuva não deixa ninguém indiferente, com os guarda-chuva abertos saem do café os restantes acompanhantes da cerimónia do enterramento, após a passagem da carrinha funerária. A quantidade da chuva aumenta, o afluente das lágrimas, junta-se à corrente de água na estrada, ambas vão desaguar na memória destas pessoas para sempre. A tarde perde o brilho, fica triste, o céu desaba de vez sobre a aldeia. As rodas da biblioteca ambulante resvalam nas poças de água, na estrada incapaz de a tirar, projectando-a para o passeio que a acompanha, não há destemidos a caminharem, não há leitores, só figuras fictícias embaraçadas nas frases, agarrando-se ás letras como se fossem bóias de salvação, na história sobre uma tarde fatal.