O comboio passou perto, apitando ...
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No largo a projecção das sombras dos cabos e fios das telecomunicações, aéreos, no alcatrão quente, na biblioteca ambulante, apontam o dedo à aproximação das nuvens. A interposição destas na luz do sol irá perdurar, ameaçando com a chuva no final da semana. A estragar investimentos absurdos nos protectores e bronzeadores de factor elevado para não causar queimaduras e deixarem a uniformidade, na exposição dos corpos ao sol, na cor morena. Diminuindo a esperança da biblioteca ambulante de ter leitores a explorarem as histórias. Um contratempo natural, pior será a imposição dos corpos deitados nas toalhas ao sol. O comboio passou perto, apitando na sua aproximação a uma passagem de nível. O som estridente consegue despertar ou assustar, os personagens das histórias, os mais distraídos, aqueles a dormirem debaixo das páginas das histórias fechadas, nas estantes da biblioteca ambulante. Eu dei um salto no banco, não contava com o apito, apesar de estar a ouvir a aproximação do comboio. No largo os automóveis nunca cessam de transitarem, alguns estacionam, ficam expostos à agressividade do sol, enquanto os ocupantes saem em direcção aos cafés. Aliviam-se do calor molhando a garganta com cerveja fresca, outros, café para sacudirem a monotonia prestes a paralisa-los. Saí do inferno para me instalar com a biblioteca ambulante noutro largo, no Rossio ao Sul do Tejo. Na sombra de um antigo palacete, transformado num lar da terceira idade. Defronte para o coreto ladeado por frondosas árvores a encorajarem as suas folhas a mexerem-se de modo a transmitirem ar fresco ao largo. Um lugar de delícias, com histórias disponíveis para todos, onde se pode fazer empréstimos das mesmas. Local aprazível, para se estar a promover os autores, a tirar vantagens do conhecimento nas histórias escritas por eles. O odor das flores das tílias está em todo o lado, um paraíso de leitores e leituras.