O olhar sábio leva-a ...
No terreno situado junto ao lugar onde a biblioteca ambulante se demora na aldeia da Foz, uma mulher colhe tomates para dentro de um balde. O olhar sábio leva-a a escolher os que estão prontos para cozinhar, os que se envolvem com a alface nas saladas num momento de amor e sabor, os que se golpeiam com os dentes. Um leitor quando se abeira das histórias na biblioteca ambulante atira-se igualmente com o olhar que sabe muito. Prudentemente, vai seleccionando as histórias, aprontadas com antecedência no catálogo, ou intercalar leituras com outras, as que se lêem no imediato. A horta e a biblioteca são espaços de culturas, agrícolas e literárias, ambas ancestrais, árduas nas maneiras de serem concebidas, unidas a alimentarem os espaços recomendados para o efeito nas pessoas. É conveniente alimentar um para se acomodar conhecimento no outro. A tarde em Alferrarede corre devagar, no local onde as histórias aguardam os leitores, passam transeuntes olhando de esguelha para a biblioteca ambulante. A inexistência de curiosidade para explorarem os trilhos das palavras, manifesta-se intensamente. Não querem saber dos caminhos tranquilos, seguirem as letras nas praias de areias de papel. Mergulharem no oceano salgado de aventuras, descobrindo naufrágios, baús de sonhos, cheios de palavras douradas. Subirem montanhas, conquistarem o topo das histórias. Tesouros da literatura, personagens ricos, em acções arriscadas, acontecimentos extraordinários, monstros impactantes na profundeza das histórias. Do que se alimentarão as pessoas hostis à leitura, alguma vez terão colhido legumes, frutas, na horta, entrado na biblioteca, e varrido as histórias de uma ponta a outra, com desejo de se alimentarem. O que preencherá os seus espaços?