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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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A neblina dissipou-se, deu o lugar ao sol no pano azul preparado para a pintura do dia. Em Alferrarede Velha, as bancadas dos vendedores ambulantes estão a abarrotar de roupa para vender. A roupa anda de mão em mão, colocam-na defronte das ancas, tiram a medida a olho, não serve, atiram-na para cima do que está exposto. Estão o tempo todo nisto, até acertarem na saia, nas calças, ou camisola, para estrearem ou oferecerem aos afilhados na Páscoa. Os mesmos gestos repetem-se na biblioteca ambulante, com as histórias, retiram das estantes, ensaiam leituras, experimentam o tamanho das letras, são seduzidos pela cor das brochuras, ou do volume da história. Tudo isto tem importância para os leitores, nas aldeias. Há os que só lêem o jornal oferecido, ao dispor, enquanto a biblioteca ambulante permanece na aldeia. Durante a sua presença nas aldeias, estes leitores gostam de ser levados na boleia dos jornais da biblioteca ambulante. Um início para se aventurarem a examinarem as histórias, na melhor das hipóteses, levar para suas casas. É o objectivo do bibliotecário, ajudar a estabelecer cada vez mais leitores no território das aldeias da minha terra. O vale cheira a primavera, é uma história aberta de par em par, a pedir o comparecimento dos leitores a lerem a paisagem, a ouvirem o canto das aves, aprendendo a estimarem o património natural. A cor azul do pano é um vestígio do início do dia, das primeiras pinceladas, o painel ficou tingido de pessoas, de leitores, aldeias e panoramas.