O som da música em ...
A manhã acordou cinzenta, a poeira iludiu-me, a sua semelhança com a densidade do nevoeiro, normal nas manhãs de inverno, obrigou os condutores a manterem os faróis dos veículos acesos. O largo do Cabrito, tem os lugares habituais de estacionamento ocupados, a biblioteca ambulante ficou em segunda fila, sem estorvar os automobilistas e peões a deambularem por aqui, olhando com admiração as histórias. Entrou um leitor, mais ouvinte, retira e coloca, hesita, finalmente, traz os CD’S escolhidos. A primeira coisa que faz depois de sair, foi entrar no seu carro, mata-velhos, ou papa-reforma, como são designados, estas máquinas, duvidosas, de transportar pessoas, muitos destes condutores desconhecem o código da estrada e a interpretação dos sinais verticais. O som elevado, encheu o largo, puseram-se a dançar os limoeiros e as laranjeiras, nos quintais das casas que cercam o largo. As pessoas não estão para bailarico, preferem estarem sentadas nas esplanadas em ambos os cafés existentes, separados pelo diâmetro do largo. A dormitarem, olhando não sei o quê, nas conversas uns com os outros. O som da música em altos berros, as histórias, não os motivam, para eles, uma boa história da vida alheia, do lugar onde habitam, um estranho, presente periodicamente no largo, numa carrinha cheia de livros, trazem assuntos à superfície. Exploram o que podem e o que não podem sobre estes, tempo desperdiçado, ninguém quer ler, o que está aqui a fazer. Bem fez o leitor, ou ouvinte, não deu ouvidos ao cepticismo, deitou fora a descrença e agarrou a oportunidade de ser leitor ou ouvinte na biblioteca ambulante.