O sumo preferido, a parte ...
Na estrada, no destino das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, não conseguia ver um palmo adiante do nariz. O nevoeiro denso não deixou ver a paisagem de um lado e outro da faixa de alcatrão, a rasgar a planície encaixada no vale espaçoso. Após ter ultrapassado a vasta depressão alongada, e ter transposto a charneca, plantada na elevação, é que o sol se deixou observar. A aldeia de S. Facundo manifesta indiferença ao que se passa lá em baixo, as suas casas expostas ao sol, aquecem naturalmente os espaços interiores, é possível que alguns dos seus habitantes tenham alguma lenha a ser consumida pelo fogo. As fontes de calor começam a ser importantes, agora que o outono se instalou, com os dias soalheiros e as noites frias. Um período em que os leitores não abundam na biblioteca ambulante, motivados pela colheita da azeitona, não têm tempo para leituras, perdem-se nas folhas da oliveira. As azeitonas são letras pretas, que eles sabem decifrar muito bem, desde tenra idade que as lêem. Sabem a história de cor e salteado, espremem as palavras, chegam ao ponto de ruptura, libertando-as do óleo. O sumo preferido, a parte final da leitura, o requinte no prato dos leitores. Foi no intervalo de um capítulo, que a Aida chegou apressada com histórias para devolver, pediu ajuda na escolha de outra, está a meio da história, da oliveira, não pode perder muito tempo na biblioteca ambulante, as letras pretas, penduradas nos ramos, têm de ser lidas, não se pode perder o fio do óleo no enredo das folhas da história. O sol no período da tarde é um aperta-livros, mantém-me sentado no banco, direito, olhando as histórias levantadas, com sorte, algum leitor surgirá para destabilizar este equilíbrio todo.