O tempo na aldeia, com estas mulheres ...
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Unem por meio de pontos dados com agulhas enfiadas em linhas, não é o mesmo nas páginas das histórias, é outra escrita, as linhas continuam a ser o ponto de encontro. Umas dão lugar às letras, estas admitem outros saberes, transmitidos pelas mães, pela escola da vida na aldeia. A mensagem chega pelos ornamentos com desenhos constituídos por linhas trabalhados à mão. Acontece o mesmo com a comunicação escrita, cujas palavras se desenvolvem sobre a linha invisível da folha limpa. Lêem melhor a escrita da costura, a outra não praticam com assiduidade, não aplicam o mesmo olhar nas palavras. Têm mais mais olho para as linhas, as agulhas e o dedal, em vez, do empenho de abrirem a caixa, das novelas, dos contos e romances. Gostam da leitura em voz alta, cosem e ouvem ao mesmo tempo, pronunciam-se no final sobre o tema escutado, correspondem a história com o seu modo de viver. O tempo na aldeia, com estas mulheres corre depressa, gosto de as ouvir, de as observar a ouvir, aplicadas na história lida em voz alta. Clica-se na primeira palavra da história, e o silêncio é o primeiro a dar nas vistas, na mesa comprida só é permitido o sussurro quase imperceptível, das linhas a desenrolarem-se dos enredos, das agulhas a criarem personagens, da tesoura solitária a separar o fio da meada. Os filhos separam-se dos pais, fixando-se nos esboços que escolheram. Ausentaram-se os companheiros de uma vida, encaminhados pela morte. Ao encontro, ao mesmo tempo, no mesmo local, de todos os outros que terminaram a existência terrena, a ilustrarem a tapeçaria da eternidade.