Observadas por olhos grandes e pequenos
Deixámos de estar acostumados às intempéries, actualmente são baptizadas mas há um pai para todas elas o Inverno. As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, as histórias e a biblioteca ambulante, mais uma vez rumam para as aldeias do Vale de Zebrinho e Arreciadas. A chuva continua, embora o vento tenha abrandado a sua fúria, as histórias estão confiantes de encontrar leitores, o viajante das viagens e andanças acredita. O rio Tejo galgou as suas margens, as bermas que ladeiam a estrada que leva a biblioteca ambulante na direcção do Vale Zebrinho afogaram-se nas águas que a charneca saciada liberta. Os lençóis de água são assim inúmeros, criando a ilusão de que a estrada aumentou em largura, e não é bem assim. O cuidado na condução é redobrado até à aldeia, os campos parecem mais extensões dos vários cursos de água que correm no vale vindos do coração da charneca. Na aldeia, uma mulher com os cabelos indomáveis caminha, levando atrás de si o cão, indiferente ao vento e à chuva. Como ela estão as histórias, dispostas a sairem da biblioteca ambulante para um qualquer lar de um leitor ou leitora, sabem que são bem acolhidas, vão ser objecto de curiosidade nas famílias de adopção temporária. Andarão de mão em mão, observadas por olhos grandes e pequenos, outras vezes esquecidas num sofá, numa mesa. A chuva intensifica-se no sentido da aldeia de Arreciadas, ainda são numerosas a quantidade de árvores derrubadas pela ventania de ontem, o diabo passou por aqui, os eucaliptais alagadiços e arrasados por grandes máquinas que se deslocam com o auxílio de lagartas, engolem quem se aventurar neles. O cenário medonho termina na aldeia de Arreciadas, onde ainda assim o vento mostra a sua força, voltando a sacudir outra vez a biblioteca ambulante.