Onde crescem as palavras simples, as...
Amanheceu com a chuva a bater nos vidros da janela do meu quarto, o nevoeiro teimosamente nega a visualização do rio, da estrada, sempre incansável a levar a biblioteca ambulante às aldeias da minha terra. Em Alferrarede Velha um gato insiste numa observação curiosa às histórias, quererá ele entrar, o interior da biblioteca rodeado de papel, provoca o instinto de desgastar as unhas, ou demarcar território nas páginas das histórias. Tem muito caminho a percorrer, árvores para trepar, ratos para caçar, e gatas para namorar. Tem livros para ler, se for caso disso, não o impossibilitarei de escolher livremente a história preferida, de enrolar-se no meu regaço, comigo a ler-lhe a sequência dos acontecimentos da narrativa. Um gato amante de histórias, de as ouvir, proferidas pelo viajante das viagens e andanças. Este gato não é o primeiro a ficar apaixonado pela biblioteca ambulante, houve outros gatos frequentadores deste espaço mágico. A esquadrinharem as histórias, a cheira-las minuciosamente com esperança de encontrarem os gatos e os ratos naturais das histórias. Também as arranhavam levemente deixando as suas glândulas odoríferas actuarem na superfície destas. Talvez seja a razão pela qual o gato leitor está ali sentado a olhar-me fixamente, a pedir humildemente a permissão para entrar. A dizer-me, entraram outros, agora é a minha vez de explorar o terreno onde crescem as palavras simples, as palavras selvagens, onde os ribeiros de tinta não têm fim.