Onde muitas vezes repouso o olhar
Na varanda, onde muitas vezes repouso o olhar, começo a distinguir para além do rio, ao longe, a aldeia de Arreciadas, repentinamente uma vaga de memórias alcança a minha ausência do momento. No pequeno banco sentado, o João e um saco cheio de histórias pousado no chão, aguarda a chegada da biblioteca ambulante. Agora que as histórias se afastaram, continuará o João nos dias assinalados estar de olhar atento lá em cima onde a estrada desemboca no princípio da aldeia, espreitando a carrinha de cor branca, vestida de riscas coloridas, que nunca mais regressa. Dali o meu olhar atinge mais próximo, o lugar de Coalhos que já foi local de permanência das histórias, mas que a fraqueza e a insensibilidade afastaram ( tenho esperança que as histórias regressem outra vez). Um pouco mais adiante a aldeia do Pego, onde para além da privação da biblioteca ambulante, as festas anuais ficaram sem efeito este verão. Evento de reuniões de memórias, de saudades, de alegrias e tristezas, as histórias também geram e partilham esses sentimentos, a quem escreve, a quem lê, a quem se descobre à roda e no interior da biblioteca ambulante nas diversas aldeias. Inclinado ainda consigo avistar algum casario da aldeia de Mouriscas, a terminar próximo da estação de caminho de ferro, na outra margem do rio Tejo. São cento e oitenta graus que a vista alcança de lembranças, de saudades, de viagens e andanças, das aldeias e das suas gentes.