Oralidades: o Carriço
A manhã a tentar ultrapassar-me, eu a querer escrever o que tinha prometido ontem a mim mesmo, antes que a memória me venha a atraiçoar. Relacionado com um pequeno episódio que escutei, enquanto a biblioteca ambulante se demorava nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, na aldeia das Fontes. Conversavam do Carriço, pelo que entendi foi um aldeão que residia na freguesia, tendo como ganha pão, pequenos trabalhos quando solicitado para isso, além de possuir algum gado ovino e caprino, que lhe estabelizava as contas, vendendo as suas peles e a carne. Um copo oferecido era sempre bem vindo, personagem popular do lugar, foi um detalhe da história que me concentrou mais, o seu traje, habitualmente incluia um casaco que usava sempre pelos ombros e não vestido. Agora vem a parte hilariante, as duas mangas do casaco, sempre pendentes, com a singularidade das suas extremidades estarem sempre obstruidas pela execução de um nó, estavam atadas. O motivo ainda mais me espantou, esta vontade auxiliava o Carriço no transporte dos mantimentos, durante o dia quando necessitava de se alimentar, recorrria às mangas do casaco, retirava um chouriço, um queijo, um bocado de presunto, pão. Fazia magia, mas não tirava cartas!