Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

 

IMG_20230808_145812.jpg

O calor no largo do Cabrito está insuportável, o alcatrão exprime a força da temperatura, estou encurralado, o meu corpo é uma fonte de suor. Os poros assemelham-se a um crivo do chuveiro no qual as gotas incansáveis saem escorrendo nas minhas costas. Os condutores ao transitarem nos automóveis, com os vidros fechados, confortados pelo ar condicionado a protege-los da canícula, olham para mim confusos, ou admirados, da permanência da biblioteca ambulante, do viajante das viagens e andanças debaixo de um sol impiedoso. A paixão pelos livros, os leitores as viagens pelas aldeias da minha terra, ultrapassam qualquer fenómeno natural, independentemente do período do ano. Sou eu e todos os outros bibliotecários ambulantes do território nacional. Com o passar dos anos atingimos qualidade para suportarmos seja o que for sem perdermos a calma. Os leitores, as restantes pessoas são o mais importante, somos vigilantes, protectores das culturas das comunidades, damos condições para permanecerem informados. Somos testemunhas do cataclismo ambiental, da aflição constante  no verão perante os incêndios a espreitarem, a devastarem o património natural das aldeias, colocando em risco os seus pertences. Oficio nem sempre valorizado, pelo desconhecimento da importância que tem nas pessoas abraçadas. Nas aldeias trabalham a terra, plantam, semeiam, colhem frutos, vindimam, sustentam os nossos estômagos, também decifram palavras. São as bibliotecas ambulantes,  os abrigos aos quais recorrem para afugentarem os silêncios, cais de embarque de viagens e aventuras.