Os dias diluem-se na ...
A temperatura do sol está irrequieta, seca-me a imaginação. O rio não tem corrente suficiente para levar as palavras criativas a jusante. Desaguar as mesmas nas páginas em branco do oceano salgado daquilo que não é verdadeiro. O suor está a esborratar as minhas costas, são várias as linhas escorrendo. Um caderno onde abundam rascunhos de palavras que perderam a aspereza. O som das cigarras a baterem as asas é o mesmo de uma filarmónica a tocar para as gentes da aldeia. É o som mais ouvido no verão nas viagens e andanças. Sobrepõe-se ao melodioso chilrear dos pássaros, ao som das teclas do portátil do bibliotecário ambulante, a fixarem letras na página digital. Aderem vagarosamente, é frouxa a capacidade de criar, derivada da canícula que se faz sentir. Tem momentos rápidos, mesmo frenéticos, quando a faculdade de inventar ganha fôlego. Depois diminui de intensidade, ao ponto de desiludir quem escreve. Instiga a equacionar se vale a pena torturar tanto a mente. Adicionando a ausência de leitores, sacrificam a leitura pelo bem-estar. Na praia, na albufeira, em casa, evitando a temperatura elevada, saboreando o ar fresco artificial. A pouca ou nenhuma vontade de ler de alguns, a inixestência de livrarias no território para abrirem horizontes, o caminho para a biblioteca ambulante. Os dias diluem-se na exígua esperança do bibliotecário ambulante, incapaz de admoestar o sol, evitar a escassa ou quase nenhuma presença de leitores neste período.