Parece que os estou a ver ...
Estão para breve as festas na aldeia do Vale Zebrinho, na rua principal as paredes de algumas casas foram alvo dos pincéis e das trinchas. Na minha passagem para outra aldeia, a conduzir a biblioteca ambulante, ainda tenho tempo de ver os aldeões a pintar os muros que as resguardam dos olhares curiosos. No local onde se afogam as tristezas, e matam as saudades, anualmente, nos cantos e recantos do espaço, onde se baila, atraem as moças, se dão os primeiros beijos, os beijos fugazes, os toques leves de reconhecimento do corpo que se acompanha ao ritmo da música, não se vê qualquer grão de lixo. Uma página em branco com a possibilidade de experimentar outra vez a história da romaria da aldeia. Parece que os estou a ver a dirigirem-se para a festa, ao som dos primeiros acordes, a reunirem-se, sentados ao redor das mesas. Os frangos e as batatas fritas não têm descanso, as fileiras das mini, um exército continuamente a dar vida nova a quem as enfrenta, que bom seria se as guerras fossem assim, como se não houvesse outro dia. A página da história deixou de ser uma, são muitas mais, capítulos cheios de paixão, gavetas de memórias que se abrem estimuladas pelo álcool, lembranças de histórias antigas. No final restam as lágrimas, do regresso da saudade, dos que partem, dos que ficam, a contarem os dias que faltam para a próxima história.