Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

 

IMG_20240131_163328.jpg

IMG_20240131_162959.jpg

A aldeia tem vida, os cães ladram, a chiadeira do arame no estendal da roupa faz-se ouvir ao deslizar na roldana, não sei onde, é perto, numa destas casas olhando o vazio no largo. Há pessoas, não se deixam ver, só a padeira as atrai para o largo. Uma vez, ou outra, há uma força invisível que traz estas pessoas à biblioteca ambulante, o pão em primeiro lugar, a coincidência boa é estarem no momento certo no largo, as histórias. A semelhança, mantêm-se na aldeia onde permaneço no momento, comparando com a aldeia anterior, no período da manhã. O som doméstico, os animais de estimação, as galinhas nas capoeiras, o canto das rolas invisíveis, o gato que salta o muro e vai à sua vida, o outro a rebolar-se no chão ao sol. As pessoas são uma visão rápida, mas não são verdadeiras no interior da biblioteca ambulante, até ao momento. Nos campos que cercam estas aldeias, as laranjas presas nas árvores que lhes dão o nome, não têm regra para os ramos que as árvores possuem. O peso é de tal maneira exagerado na ramaria, só o chão à volta as aguenta. Em Alvega, a maior localidade, sede de freguesia, mãe das duas primeiras, estacionada noutro largo, a biblioteca ambulante não tem orquestra no coreto. Consegue ouvir a voz do vento seguindo o chilreio dos pássaros. Uma mulher abordou as histórias, saudou-me, chamando-me José Diniz, não houve tempo de a corrigir, a conversa precipitou-se na leitura. Segundo ela, actualmente todos sabem ler, só que não querem. E disse mais ainda, quem sabe ler, sabe ter. A Laura e o Miguel vieram visitar a biblioteca ambulante, não são leitores, estão de férias, a escola no Gavião, onde estudam, ultrapassou o primeiro semestre. Avaliam-se os desempenhos de todos. A Laura e o Miguel exploram os espaços, retirando as histórias, lendo os títulos, abrindo as páginas, a lerem parcelas cheias de palavras. Partilham ideias, descobrindo as histórias novas, reaparecendo com independência, noutras que já leram.