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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Pensamentos desatentos

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A meio da manhã de outro dia, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, com a chuva desta vez a cair como se tivesse escoado por orifícios de um funil de fabricação de fios de ovos, atingindo quem anda desprevenido com tamanha frieza e carinho ao mesmo tempo. Neste momento a biblioteca ambulante mantém presença na aldeia de Coalhos, com panorâmica para o outeiro na outra margem do rio, a névoa esconde a fortaleza e o jardim debruçado no sentido das lezírias. A ausência de leitores é habitual neste aglomerado de casas reunidas num planalto, de vez em quando, por magia, uma leitora, um neto ou neta agarrando uma mão mais calejada e velha, do trabalho manual agrícola, dos anos que já passaram, aproximam-se, entram receosos, como se os pequenos lilliputianos da história escrita por Jonatha Swift, nas Viagens de Gulliver, náufrago na costa do país de Lilliput, os aprisionassem nas argolas pregadas no chão, onde se enfiam as cintas de aperto da estante móvel da biblioteca ambulante. Verdadeiramente não é isso que acontece, têm liberdade de conviver com as histórias, de encarnar nos seus personagens, como no de Phileas Fogg, em A volta ao mundo em oitenta dias de Julio Verne, ou na de Paul Theroux, escritor e viajante, entre outras. Com despretensão da minha parte, até sonhar a condução da biblioteca pelos caminhos e estradas das viagens e andanças, por aldeias e lugares, aprendendo e aceitando outras pessoas, transportando orientação criativa para desenquietar pensamentos desatentos.